Maria D’ajuda nunca soube o que era livros, mas página por página daria uma coleção de romances sujos.
De capa dura, passou a vida a ferro frio de mão em mão, mas ninguém sequer sabia se aquecia o seu coração.
De peito mole amamentou os bastardos perdidos em sua cama e desde sempre chorou este leite coalho derramado.
Puta desalmada desamou todas as almas penadas que assombraram seu colchão.
Como fodia essa fodida sem gosto pela vida. De manhã de tarde de frente de lado por trás, de tudo quanto é jeito e com tudo quanto é gente. De menino travestido de homem de homem metido a menino.
Pegou e largou tudo quanto é doença que os vermes transmitem na nota suja do dinheiro.
Por prazer se dava pela metade. Por bebida e riso falso de dava por inteiro. Por amor? Nem fodendo.
Sem filhos Maria fodida era uma puta velha filha da puta, que não admitia que era uma velha puta que o mundo sem pai, gozado e sem gozo, paria.
Não morreu de gonorreia porque usava camisinha, mas como não tinha cobertor de orelha morreu sozinha atolada numa poça funda de lama.
Uma faca de um cafetão café com leite e sem açúcar cortou a sua voz com um risco do pescoço à orelha e o sangue molhou suas palavras e esvaziou suas veias.
Mas para quem tinha sífilis na alma, o que era mais uma buceta na cara?
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Sérgio Vaz (poeta e fundador da Cooperifa)
2 comentários:
O texto é forte e triste, Pablo: "Maria, Maria é um dom".
De fato, Lívio.
Gostei bastante. Retrata algo muito mais comum que imaginamos.
Abraço.
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